sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Noite Fria

A noite está gélida
A lareira está acesa
A comida cozinhada
A fumegar na mesa

Levanto-me para comer
Mas não tardo a tiritar
Um copo vou beber
Para o frio me passar

Olho pela janela
A noite está estrelada
Parece uma noite bela
Mas está a cair geada

No escano me vou sentar
Para me tentar aquecer
E o borralho vou atiçar
Para o lume bem arder

Está na hora de ir dormir
Está na hora de deitar
A geada não para de cair
E o sono já está chegar


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Receita dos Biscoitos

Ingredientes 
12 ovos
600 g açúcar
1 kg de farinha
2 colheres de sopa de leite
100 g de manteiga
1 colher pequena de fermento royal
1/2 quartilho de azeite   
2 colheres de sopa de aguardente
raspa e sumo de 2 laranjas

Receita
Partir os ovos, separando as claras das gemas. Misturar as gemas com açúcar e bater, adicionar leite. Derreter a manteiga e adicionar. Colocar azeite, a água ardente e por fim a raspa e o sumo das laranjas. Bater as claras em castelo e adicionar. Por fim, adicionar o fermento na farinha e misturar tudo.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

APENAS UM PASSEIO?!...

Não meus amigos
É muito mais que isso
É matar a saudade
De um passado querido
É sentir no presente
Um amor vivido
É sentir a alegria
Por retornar ao lugar
Onde já fui feliz um dia!

Ventania Poética Beirã♡


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Receita dos cuscuréis

Ingredientes
1 quilo de farinha;
12 ovos;
1 copo de azeite;
Sumo de duas laranjas;
Aguardente a gosto;
Sal fino;
Óleo para fritar;
Canela e açúcar a gosto.

Confeção
Colocar a farinha num alguidar, desfazer fermento de padaria num pouco de leite, adicionar sal e misturar com a farinha. Acrescentar o azeite, a aguardente e o sumo das laranjas. Mexer bem a massa e por fim deitar os ovos. Amassar bem e deixar fintar.
Espalhar a massa e colocar em óleo bem quente para fritar.
Polvilhar com açúcar ou canela a gosto.


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Que saudades

Que saudades de ver correr
A água límpida dos ribeiros
Deslizando devagarinho
Por entre hortas e lameiros!

Ribeiros onde tanto brinquei
Entre águas cristalinas
Com meus amigos mergulhava
Naquelas águas divinas!

E hoje estas saudades
Vivem dentro de minh'alma
Desejando a toda a hora
Voltar aquela doce calma!

Mas um dia vou voltar
Diz-me isso meu coração
Mas enquanto esse dia não chegar
Vou vivendo da recordação!


De : Ventania Poética Beirã


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O vinho

Que frio está esta noite
vou á adega buscar vinho
que tristeza que senti
quando lá cheguei e vi
que o túnel estava vazio.

Mas eu não desanimei
e ao meu vizinho falei
desta minha condição
tenha pena meu vizinho
pois acabou-se o meu vinho
veja a minha provação.

Beber vinho dá saúde
lá diz o velho ditado
eu bebo para esquecer
o meu fado mal fadado.

Não tenho pão pra comer
está na terra semeado
quero vinho pra beber
para o meu pão ser ceifado.

Já as uvas são maduras
e lá vão para o lagar
já lá vão as amarguras
muito alegre e a cantar,
com amor as vou pisar.

Para de novo encher
o túnel que está vazio
e com ele me aquecer
nas longas noites de frio.

A uns ele faz feliz
a outros nem tanto assim
que se queixe quem o bebe
porque eu falo por mim.

Eu gosto de beber vinho
e também dar a beber
seja quem for o amigo
que de mim o venha a ser.


Natalina Marques


domingo, 19 de outubro de 2014

Apanha da castanha

O tempo delas já chegou
Está na hora de as apanhar
Agora a apanhá-las não vou
Só gosto de as saborear

Cruas, cozidas ou assadas
Eu gosto delas a valer
Não importa como são cozinhadas
Importo-me só de as comer

Eu sou da terra das castanhas
E muitas vezes as apanhei
Mas para as apanhar tem as suas manhas
Pois muitas picadas dos ouriços levei

Mal saia da escola
Os castanheiros ia guardar
Levando comigo a sacola
Para os deveres efetuar

Esta tarefa efetuei
E com ela aprendi lições
Com chuva, frio e sol as apanhei
Mas dela tenho boas recordações

Manuel Pires


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

17 de Outubro - Dia Internacional para a erradicação da pobreza

O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza celebra-se a 17 de outubro.
O objetivo desta celebração passa por alertar a população para a necessidade de defender um direito básico do ser humano...mobilizar esforços no combate à pobreza, que continua a provocar vítimas, não obstante a humanidade conseguir produzir a quantidade de alimento necessário para responder às necessidades de todas as pessoas do mundo.

A erradicação da pobreza e da fome é um dos oito objetivos de desenvolvimento do milénio, definidos no ano de 2000 por 193 países membros das Nações Unidas e várias organizações internacionais.

Em Portugal, o número de pobres e de pessoas que passam fome tem vindo a aumentar, em resultado da crise. As instituições de apoio e caridade social têm registado um aumento significativo do número de pedidos de apoio por parte das famílias portuguesas.

O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza permite-nos ter noção de que há um longo caminho a percorrer, na superação deste problema humanitário, que se transformou numa causa...





segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A minha mãe e a minha terra

A minha mãe é linda
linda quando sorri e quando chora
linda por dentro e por fora
linda de dia e de noite, linda, linda, linda.

A minha terra é linda
linda quando me faz sorrir
ou quando por ela choro
linda ao longe e ao perto
linda de dia e de noite, linda, linda, linda.

A minha mãe é linda
A minha terra é única
São lindas as minhas origens.
Da minha mãe ganhei vida
E vida senti na minha terra.
A minha mãe é única
A minha terra também
Poderei um dia perder ambas
Mas nelas viverei eternamente.

Paulo Costa


sábado, 11 de outubro de 2014

As Vindimas

São as uvas tão douradas
Que dão encanto e beleza!
'Inda brilham nas ramadas,
Mas por pouco, com certeza.

Já andam homens na vinha
E também vindimadeiras.
A uva é a rainha,
Na beleza das videiras!

Apanham as uvas lestos
Os homens. As raparigas
É que carregam os cestos,
Ao som de lindas cantigas.

Quando termina a vindima,
Continua a jornada:
No lagar o vinho rima,
Com acordes da festada!

Já tudo é alegria...
Anda tudo numa roda:
Pela noite até ser dia,
Cantam cantigas da moda.

Ferve o vinho no lagar
E na cabeça do povo!
Bebem sem s'embebedar!
O vinho é sangue novo!

Modesto


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Outono

Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga
Diário X


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

1395, Janeiro, 17, Pinhel


Comcerto que fez Pinhell com o Bispo de Viseu Dom Joane sobre Palla Valbom Carualhal
Livro nº 1, Chancelaria de D. João I, fls.,5.
Era de mil e quatrocemtos e trimta e tres annos dezasete dias do mes de Janeiro em pinhell no pacos do bispo presemte dom Joane bispo de uiseu outrosy presemtes afomso anes gomcallo Gill Juizes gomcallo lopez luis anes aluaro Rodrigues vreadores e vicemte esteues procurador do comcelho da dita villa e pedro gomcaluez o moco e pedro gomcaluez o moco e fernão gomcaluez louremco domimguez gomçalo gomes, goncalo vazquez escudeiros e aluaro pirez Luiz martins vicemte paaez e domingos anes e domimgos fernandez moradores na dita villa e outros homens bons da dita villa o dito senhor bispo dise aos sobreditos que ello tinha preuilegios amtigos dos reis confirmados por noso Senhor el Rej em razom de liberdades omrras que a sé de Viseu avia em palla em valbom em Carualhal aldeas da dita See que som em termo da dita os quais mostraria se os var quisesem e que lhes pedia e rogaua que nom quisesem com ela auer feito nem demamda sobre a dita razom e que olhassem sobre esto o que era mais serviço de deus e del Rej prol e omra da dita villa y sua delle dito senhor bispo que lho determina sem outros custos precos demandas e os sobreditos juizes vreadores e homens bons e procurador do concelho deseram que elles tinham semtemças escritas ganhados pelos reis sobre as jurjdicomis das ditas aldeas e que guardamdo o serujço del Rej e o que nas ditas semtemcas há comteudo e nom Imdo contra ellos que lhas podia digo praziaautorgarem por não aver outro preco com ho dito senhor bispo que quamdo fosem lamcadas fimtas não sejam avaliadas as erdades do dito senhor bispo nem os bois do arado com que ellas laurarem e que estes bois sejam escusados de todas duas e que todelos outros benis mouemis e raiz que ouuerem que lhes serom avaliados e pagem dellas nas fimtas talhas quamdo as lamcarem como os outros da dita villa e termo como nas semtemcas que ho concelho tem he comteudo e que esto lhes praziam per sua omra emquamto elle fose bispo da dita cidade de viseo e mais não fiquamdo guardado ao dito comcelho sobre todo o seu direito e o dito senhor bispo dise que esto lhes gardecia a que asi como delles protestauam por o direito do dito concelho que asi protestauam elle por os direitos da dita See de uiseu e deste o dito senhor bispo pedio hum estromento que he de ser selado com o sello do dito concelho e o dito procurador dise e pedio hum estromemto que ha diso? digo outro estromemto em nome do dito comçelho feitos foram em pinhell no lugar e dia mês e era sobredita testemunhas que a esto foram presemtes gomcalo Vasques o moco alcajde da djta villa João esteuez morador na dita villa nos pacos de bispo gomcalo anes priol de Samta Maria da Couilham e manoel martins hoomem dos luzelos termo da dita villa e outros muitos eu joham lourenco tabeliam del Rej em pinhell que dous estromemtos de hum teor escreuj e dej esta ao dito procurador pera o dito comcelho em cada hum delles meu sinal fiz que tal he pagou tres liuras no todo por aluidro.
Obs. - Neste documento é testemunha Manuel Martins do lugar dos Luzelos, que pertencia ao concelho de Pinhel, neste documento prova que os Luzelos era uma povoação e não uma quinta
De: Aires Cruz Coelho

domingo, 5 de outubro de 2014

1722, Abril, 16, Valbom

Arquivo Nacional Torre do Tombo, Memórias Paroquiais de Valbom, Vol.,43, nº458, fls.,451
Val bom
O Re(veren)do Arcipreste dou Conta a Vm. (Vossa Magestade) da minha J(greja) v(il)a e das cozas deLa
1 He orago de Nossa Senhora
2 FregueZes 186
3 Que si Leis por PusLuira (possuirá?) a do Sacramento e de Nossa Senhora
4 He Se fazem 3 SaBados de Coresma Jas a Crus não. SalbaCao sai mais nas Ladainhas de maio.
5 fase hum aniuersario pellas almas em cada hum anno
6 ha huma Capella ão smj hiteiro o Abbade João dias ain(da) Cura e a esta pesuindo João dias
7 ha outra Capela da S(an)ta Cruz q.(ue) mand(a)ra fazer Jeronimo dias Reitor de pelo Gesto este pios.Tem obrigaCam mais de huma miSa os ademenistra de ves Sam os moradores do povo o Liuro dos Bautizados q.(ue) vice.
Copiou a uito (8) dias de feuereiro da era de i79 a o Livro dos Cazados pricipiou a Sejs dias de Setenb.ro de 78, o dos defuntos principiou a Sejs dias de Setemb.ro de 78 e não tenho mais Resp(osta) a dar Conta os g.de Avm.
Val bom 16 de Abril de 1722
Ant(onio) Soares Barboza
Beneficios
Declaro q(ue) nesta frª fas o prelado Camara e na d(i)ta frª (freguezia) esta hum sitio q. chamão o poSo cercado com muros e com tres portas m(ui)to antiguas Barboza
De: Aires Cruz Coelho

sábado, 4 de outubro de 2014

Vindimas

Pinhel/Valbom já se vai revestindo de nostalgia, para quem é (ainda!) visitante recente, que se transforma, como que por magia, em presente… em dádiva. De longe se agenda a vindima, para coincidir com aquele dia (por enquanto!) feriado, que vai anteceder um fim-de-semana que se prevê cansativo mas cheio de cor e aroma.
A terra de Valbom é rica, daquela que ao mexer-se se sente que tudo ali seria criado. É pródiga esta natureza, que no meio da penedia faz o milagre da vida parecer algo corriqueiro e vulgar. Tudo cresce e frutifica. Algo puxa para aquela terra… apetece mexer, sentir.
O motivo da visita é dos mais ricos. Saudades, sem dúvida, mas sobretudo a Vindima. Baco tem naquelas terras um lugar de frutificação poderoso. A paisagem está pintada de cores quentes, amarelos, vermelhos e por aqui e por ali já desponta um ou outro castanho, cores ricas e brilhantes que nos explicam por que pintou Van Gogh “As Vinhas Encarnadas”.
A viagem até Pinhel foi calma, toda durante a noite, que as lides profissionais assim obrigam. À chegada esperava-nos uma garrafa de vinho, um queijo e a ginjinha daquelas paragens, que sai do poder da Terra e que a mestria do Pedro torna única, acompanhada do sabor bom da saudade morta. Dois dedos de conversa e rumou-se à cama que o dia seguinte haveria de começar cedinho e o corpo pedia descanso.
Foi fácil acordar, abrir a janela revela uma paisagem de encanto. Ainda entre o lusco-fusco já os contornos da serra da Marofa se revelam, como virgem envergonhada da sua nudez frente ao seu amante. Num plano mais imediato está o olival da Quinta da Torre. Destas oliveiras emana calma e paciência, o seu tronco enrugado e áspero encerra séculos de vida e vidas. O cheiro da terra ainda dormente desperta algum sentido que ainda quisesse ficar entre lençóis e Morfeu é definitivamente abandonado. A primeira refeição do dia retempera o corpo e ruma-se à vinha. Esta é uma vindima de pequeno vulto, somos poucos vindimadores, onze contando até as princesas pequeninas, mas diz o ditado bem antigo que “o trabalho do menino é pouco mas quem o desperdiça é louco” e estas meninas deram um valioso contributo. A confiança destas gentes nas gentes é grandiosa e revela-se nos mais ínfimos detalhes como por exemplo na entrega das tarefas. Coube ao António, que naquelas terras é o Tó, a tarefa de conduzir o tractor que seria usado dentro da vinha para recolher os baldes de uvas que haveriam de encher os caldeiros ou potes como por Valbom se diz. Foi a sua primeira vez e por certo haveria de estar um pouco nervoso, pois se nunca tal houvera feito, mas não se notou. A confiança de um fez eco na segurança do outro e ao final do dia já era por tu o tratamento entre tractorista e tractor. Pelo caminho até à vinha foram muitas as alegrias para os olhos, umas a despertar a gula outras a nostalgia. Foram surgindo umas macieiras que explicam o porquê do Adão ter descoberto que andava nu, se eram assim as maçãs da Eva o pobre não teve outro remédio a não ser comer… As figueiras acicatam a gula e também elas têm um episódio bíblico associado mas desta vez levam à descrença… Judas teria dificuldade em se enforcar numa maravilha destas… Amoras, pinhas, abrunhos cagoiços (palavrinha curiosa e sugestiva…) tudo por ali se encontrava e em tudo aquilo que a gula poderia encontrar satisfação ela não foi negada. A vindima para uns era apenas o repetir de uma tradição anual, que assume, sem dúvida, o carácter de peregrinação, tais os rituais que a envolvem, para outros era uma novidade ou pelo tempo do esquecimento ou por ser a primeira vez. Para a Francisca foi a primeira vez e numa idade em que já deixará marca na memória. Deu prazer a vindima, sentir nas mãos o açúcar que o tempo e as Saccharomyces cerevisae hão-de transformar em vinho, foi um acordar de memórias velhas, bem antigas. Aquela doçura encerra em si o sol do verão, o poder da terra e faz com que os dedos se colem. Para uns esta é uma sensação desagradável para outros nem por isso, é apenas diferente e antecipa o prazer de saborear esse néctar com que Baco nos prenda. A vinha estava farta, uvas em cachos longos e pesados, numa carga tal que só a dedicação da Lucinda, mulher forte (de temperamento e de braços!) pode justificar. Era amor o que se via por aquela vinha em pormenores como por exemplo o cuidado na eliminação das ervas que competiriam com a videira, roubando-lhe a água que faria crescer o bago da uva. Finda a vindima ruma-se ao almoço, que de véspera foi adiantado para minimizar o tempo gasto na sua confecção. Come-se com calma e bebe-se o vinho do tio Zé da colheita do ano passado, melhor lembrança não poderia haver.
A tarde leva-nos à vindima do tio Zé e da tia Conceição. São um casal! E que casal! Entre ambos existe uma cumplicidade que só um grande amor pode justificar. Seria fácil apontar outros motivos, mas isso seria tolice. Só o amor explica que um único par de olhos possa ser usado por duas pessoas de tal forma que é difícil saber quem é o dono deles. Falo de um par de olhos colocado na mesma cara, claro. A cumplicidade é tal que curtas trocas de palavras, em surdina, permitem a orientação precisa e perfeita e uma sincronia tal que com objectos cortantes envolvidos não houve um único incidente. Pela tarde a conversa vai surgindo, por vezes em tom mais brejeiro com alguma picardia, mas o tio Zé, respondendo ao seu sobrinho Tó, fez à Tia Conceição o elogio supremo que uma mulher pode esperar de um homem “ não meu sobrinho, depois que experimentei este travesseiro nunca mais quis experimentar outro!”. Figos, maçãs, uvas e uma sede brutal, que valoriza a água até ao infinito, pintam esta tarde com as cores da alegria e do prazer. Ao fim do dia na cozinha da tia Conceição Pantagruel e Baco tiveram a adoração que merecem. O Presunto sentiu a faca pela primeira vez, num trabalho de parceria engraçado, o Pedro no corte e a Gi a fazer as lascas, cada um reclamava do que podia, mesmo sem motivo e a gargalhada correu fácil e sonora. O queijo de cabra acicatou o palato… uma delicia!
Mais para a noite deveria ser o descanso, que o corpo até foi puxado, mas nada disso. O serão tinha uma garrafa de espumante previsto, mas antes disso ainda o Alfrocheiro deu cartas, e que jogadas. Este vinho é uma delicia tenho pena que tenha os dias contados… mas o prazer que já propiciou ninguém tira. Casa-lo com um naco de pão e umas fatias de queijo é um acto sublime de prazer. A primeira garrafa foi aberta logo à chegada a segunda coube a honra ao Bruno, que o fez com o cuidado e carinho que o vinho merece. A festa terminou com o espumante que estava previsto, vinho branco de uma transparência e clareza irrepreensíveis feito a partir da casta “baga tinta”. Sem duvida um vinho excelente, com um aroma fabuloso e um toque de flores inebriante. Finalmente fomos até Morfeu… no sábado esperava-nos vindima a sério!
Levantar cedo abrir a janela e deixar o mundo entrar pelos olhos dentro! Hoje a vindima tem gente em número sério, dois tractores dentro da vinha, vários homens a virar os baldes, um corrupio de gente. Primeiro uma vinha digna de um postal ilustrado, ao nível da Lucinda, e depois uma tristeza… parecia rebusco, daquele que qualquer vindimador decente deixa para os caçadores. Mas o encerramento foi com chave de ouro. Uma vinha com umas uvas moscatel deliciosas, afinal nem todas as uvas são iguais mesmo sendo da mesma casta! Nesse final de tarde comer só mais um bago ou mais um figo seria sinónimo de explosão!… A noite apanhou o pessoal cansadito… só um brinde a uns aniversariantes e cama!
Domingo e a sua preguiça… difícil sair da cama, mas teve que ser! Era preciso ir aos marmelos para trazer até às terras do Mondego, quase onde termina. Ruma-se Talefe para colher os marmelos, aproveita-se para dar um passeio pela Quinta das Sete Capelas, uma novidade paisagística que alegrou os olhos da Gi e do Bruno e depois rumar a casa da Nela e do Nor. Refeição em Valbom ou Pinhel sem grelos à pobre é impensável. Este prato de uma riqueza extraordinária, que lhe vem da mistura orgiástica do azeite e do alho com o verde dos grelos e a maciez da batata é um festim para os sentidos. Acompanhados por uma farinheira torradinha… delicia suprema!
Mesmo para quem é novo nas andanças por Pinhel/Valbom entende perfeitamente as saudades que sente quem por lá se fez gente e o destino conduziu a outras paragens…
Anabela Bragança

Coimbra,  9 de Outubro de 2012



"O que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura… E que a doçura que se não prova se transfigura numa doçura muito mais pura e muito mais nova…" Miguel Torga

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Mensagem dia do idoso

Querido idoso,
Esta mensagem é para si
Que possui experiência em
Disseminar conhecimentos por onde passa.

Neste dia tão importante
Orgulhe-se pela sua passagem.
A vida é longa e poucos
Chegam tão longe como você chegou.

A estrada da vida é árdua
E as vezes quase insuportável,
Mas você consegue passar
Por obstáculos e hoje
Transmite paz e sabedoria.

Parabéns pelo seu merecido dia.
Feliz dia do idoso!


sábado, 27 de setembro de 2014

Vindima

Mosto, descantes e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.

Laivos de sangue nos poentes baços.
Doçura quente em corações azedos.
E, sobretudo, pés, olhos e braços
Alegres como peças de brinquedos.

Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza.

Rasgam-se os véus do sonho e da desgraça.
Ergue-se em cheio a taça
À própria confusão da natureza.


Miguel Torga


terça-feira, 23 de setembro de 2014

Chora ó videira

Antoninho, cacho d´uva,
Oh quem te depenicara:
De baguinho, em baguinho,
Que nem um só te deixara.

Ó meu amor, vinho, vinho
Que eu água não sei beber;
A água tem sanguessugas,
Tenho medo de morrer.

Vinho feito a martelo,
bebe-se de qualquer maneira;
Mas para animar a malta,
Não há como o da videira.

A videira muito alta
Faz sombra, não dá mais nada;
Mas para dar belas uvas
Precisa de ser podada.

Menina que anda na vinha,
Dê-me um cachinho alvar;
Que eu lhe darei um arinto,
Quando o meu pai vindimar.

Não quero ricos cavalos,
Nem os palácios reais;
Queria ter uma adega
Com trinta pipas ou mais.

Chora a videira,
Chora a videirinha;
Chora a videira
Olha a rosa minha.

Chora a videira,
Chora, chora, chora
Pelo vinho mosto,
Que se vai embora.

ALEGRIAS POPULARES, Cancioneiro Folclórico do Concelho de Seia, BA, Jaime Pinto Correia, vol. I, 1952, vol. II, 1967

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Mapa da nossa aldeia

Temos hoje uma publicação um pouco diferente das que têm sido apresentadas neste blog. Hoje temos um mapa da nossa aldeia. A visualização direta da imagem não permite a observação de todos os pormenores inseridos no mapa, deixo assim o convite para todos os que pretendam obter o mapa original para me contatarem através do e-mail aldeia.valbom@gmail.com ou pelo facebook Aldeia Valbom para que eu possa enviar o mapa com a devida qualidade. Espero que se divirtam nesta viagem virtual pela nossa aldeia! Gostaria de deixar um agradecimento especial ao autor do mapa pela elaboração e partilha connosco. 


Algumas partes do mapa que apenas são visíveis com recurso à ferramenta zoom no mapa original





sábado, 6 de setembro de 2014

O vinho

O vinho vem da videira
A videira da cepa torta
No pipo corre pela torneira
E dele muita gente gosta
O vinho alegra a vida
Bebido com moderação
Mas há muita alma perdida
Por o beber sem restrição
Seja ele branco ou tinto
Verde, maduro ou alvarinho
Como néctar distinto
Deve-se tratar com carinho
O homem gosta do vinho
Porque lhe dá alegria e vigor
Eu também gosto de um copinho
Pois faz-me sentir melhor


Manuel Pires


terça-feira, 29 de julho de 2014

Do postigo da minha porta

Do postigo da minha porta
Vejo gente a passar
E coisas que pouco importa
Estar para aqui a comentar

Do postigo da minha porta
Vejo coisas de pasmar
Vejo as couves da minha horta
E quem me as anda a roubar

Do postigo da minha porta
Tudo consigo enxergar
Até a natureza morta
Que teima em rebentar

Manuel Pires


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Saudades da minha aldeia

Meus sonhos deixei um dia
Na aldeia que me viu nascer
Correndo por aquelas ruelas
Me tornei mulher, aprendi a viver

E em cada dia relembro
Sonhos que acalentava
E senti tristeza ao ver
Que dali, nada mais lembrava

E hoje sinto saudades
Fico triste e franzo a testa
Pois ao olhar para trás
Desses sonhos já nada resta

De: Ventania Poetica Beirã 


domingo, 1 de junho de 2014

O melhor do mundo são as crianças

O melhor do mundo são as crianças
Que têm a inocência do bem,
E o futuro da humanidade
Nos olhos que sorriem.
Têm a beleza nas tranças,
A sabedoria de mais ninguém,
Nas lágrimas, felicidade,
E amor por outro alguém.

Gosto de ver a traquinagem
Inocente, do mais reguila miúdo
Que parte o vidro e mente
À gente, mesmo que seja sem querer.
Olha o mundo e tem coragem,
Acredita no nada e no tudo,
Cai no chão e segue em frente,
E sabe agora o que é ser.

Mário L. Soares
mote de Fernando Pessoa




domingo, 18 de maio de 2014

Festa de Valbom

Valbom é uma aldeia, não se sabe se pequena se grande, porque estas coisas dos tamanhos são demasiado relativas, dependem de variáveis mais complexas e abstratas do que o número de fogos ocupados ou o número de habitantes. Depende de coisas como raízes, família, amizade e outras coisas mais que se afastaram da memória e por isso também da escrita. Será uma aldeia pequena aquela que faz com que acorram em romaria (quase se pode dizer!) pessoas de Lisboa e de outros locais longínquos e distantes? Será uma aldeia pequena aquela que deixa tanta saudade nos corações de quem a vida empurrou para longe? Parte-se das terras do Mondego, onde o rio se espraia numa preguiça mole e sonolenta sem pressa de se aventurar nas turbulências do mar, em direção à “terra”, esse local místico onde as pernas deram os primeiros passos e também os primeiros trambolhões, para ir à Festa. É preciso chegar a tempo da missa que será dita em espaço aberto e versará sobre a importância da Cruz, esse castigo infligido a Jesus, para remissão dos nossos pecados. Objetivo atingido, a chegada a Valbom coincide com o início da procissão que levará os santos desde a Igreja até à capela. Os andores estão carregados de flores, dispostas numa harmonia singular, que por certo representa a adoração dos fiéis. Cada andor exige 4 carregadores. O percurso é duro, com subidas e descidas, e o calor a apertar com uma inclemência que não se supunha e a que ainda ninguém se habituou. É bonito de ver o espetáculo proporcionado pela procissão. É uma forma estranha de ver sendo visto, porque o mais belo de tudo é poder participar, caminhar de forma cadenciada ao som da música da banda que foi contratada para alegrar as cerimónias, admirar os andores na sua profusão de cores e sobretudo ver as pessoas. A importância da Festa pode ser avaliada por muitos fatores, mas o cuidado posto na escolha das roupas é suficiente para classificar esta Festa como “A FESTA”. As mulheres desta terra são bonitas e neste dia estavam ainda mais bonitas, vestidas e calçadas com rigor. A cor da procissão é de realçar e muita advém do brilho destas mulheres, que mesmo em penitência descalça, se vestiram com cuidado e exigência. A missa foi extensa, dorida pelo calor intenso (que deveria ter deixado os penitentes amolecidos e incapacitados para qualquer esforço!) e terminou com o regresso dos andores à igreja, dando uma volta mais longa até serem recolhidos ao fresco, que as paredes grossas de velho granito teimam em conservar independentemente da torreira e inclemência do sol, que parece estar apostado em a tornar em moleza cálida. A música, uma vez mais, marcou a cadência do passo, e o senhor padre, homem novo, ainda de sangue na guelra ia dando instruções aos fiéis. A sua juventude era bem visível no rosto despido de rugas, mas também nos jeans informais que afloravam debaixo das icónicas vestes brancas carregadas de simbolismo. No final da procissão cada um se recolheu ao almoço, que se crê ter sido para todos faustoso e farto em qualidade e iguarias. Mais à noite haveria um divertimento mais pagão. Sim, não há festa que se preze sem que o sagrado e profano coexistam em harmonia, quase se pode falar em casamento… a noite foi aquecida pelo fogo-de-artifício que fez juntar as pessoas sobre a ponte da ribeira e as deixou de olhos postos no firmamento, para apreciar, não a obra de direta intervenção Divina, mas sim a criação humana. Foi bonito o fogo, cheio de cor e magia. No final o bailarico! Corre alegria e riso, duas voltas de dança, umas cervejas com os amigos, o reencontro de quem já não se vê há muito tempo, dois dedos de conversa e a madrugada chega, levando os foliões, mais ou menos bem-dispostos, até aos braços de Morfeu para umas horas de retemperança. No dia seguinte a Festa continua, mais procissão, desfazer os andores, e ficar a deixar a nostalgia fermentar para o ano seguinte. Os mordomos desse ano foram já nomeados e a festa foi-lhes entregue com pompa e circunstância. 

Anabela Bragança.

                                             Santa Cruz

Cerejas, meu amor

Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-as
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...

Renata Pallottini

domingo, 4 de maio de 2014

Poema à Mãe

No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal....

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.

Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas...

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade



segunda-feira, 14 de abril de 2014

Domingo de Ramos

De ramo de oliveira na mão
Enfeitado a condizer
Como manda a tradição
Os ramos vão-se benzer
Depois de abençoados
Com a graça do Senhor
Pelos afilhados são ofertados
Aos padrinhos com amor
Os padrinhos ficam radiantes
Com este ato encantador
E os afilhados contentes
Por lhe demonstrarem amor
Este dia, é um dia de alegria
Para todo o cristão normal
Pois foi neste belo dia
Que Jesus entrou triunfal
E com grande ousadia
Em Jerusalém afinal


Manuel Pires


sexta-feira, 21 de março de 2014

Poema das Árvores


As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
Se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver e sós
E entretanto dar flores.


António Gedeão


quarta-feira, 19 de março de 2014

Dia do Pai

Pai

Este homem que eu admiro tanto, 
Com todas as suas virtudes e também com seus limites.
Este homem com olhar de menino, sempre pronto e atento,
Mostrando-me o caminho da vida, que está pela frente.

Este mestre contador de histórias
Traz em seu coração tantas memórias,
Espalha no meu caminhar muitas esperanças,
Certezas e confiança.

Este homem alegre e brincalhão,
Mas também, às vezes, silencioso e pensativo,
Homem de fé e grande luta,
Sensível e generoso.

O abraço aconchegante a me acolher, este homem,
Meu pai, com quem aprendo a viver.
Pai, paizinho, paizão...
Meu velho, meu grande amigão, conselheiro e leal amigo:
Infinito é teu coração.

Obrigado, pai, por orientar o meu caminho,
Feito de lutas e incertezas
Mas também de muitas esperanças e sonhos!




sábado, 8 de março de 2014

A ti, Mulher!

A ti, Mulher...
Que nasceste para amar e ser amada,
Criada para dar vida à própria vida
E que és tantas vezes maltratada
Nesta sociedade louca, corroída...

A ti, Mulher...
Que negados vês ainda alguns direitos
E te oprimem da suma liberdade, 
Como se fosses serva fiel da sociedade
Neste mundo sujo em preconceitos...

A ti, Mulher...
Que pela natureza és bênção querida...
E em teu peito tens o leito e dás guarida
À ternura, ao carinho e ao amor...

A ti, Mulher...
Quero exaltar o teu real valor...
Não hoje simplesmente, aqui, agora!
Mas... que o Dia da Mulher - o seja sempre:
- Hoje, amanhã, e a toda a hora,
E te libertes das garras do furor
Desta sociedade incompetente e corrompida!

A ti, Mulher...
Baixa, alta, branca, negra, magra, obesa...
Flor, fruto e semente que dá vida à própria vida;
Que és do carinho e do amor rainha de beleza,
Obra-prima da própria Natureza...
Mulher, filha, esposa, mãe ou avó querida...

A ti, Mulher...
E sem favor... Eu quero exaltar
Nos versos que declamo em teu louvor:
Curvo-me perante ti, Mulher, por seres quem és!
Deixo estes versos a teus pés!
E neles... em cada palavra uma flor!

Fernando Reis Costa



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

TU

TU que és o meu amor,
A minha dor...
Leva-me contigo a voar
nas grandes asas de um condor

TU que és o meu colibri,
O meu beija-flor
Leva-me contigo a pintar
o dia com muita cor

TU que és o meu sol,
A minha música
Leva-me contigo ao pomar
ouvir o melodioso rouxinol a cantar

TU que és o meu bico-de-lacre,
O meu chamamento
Leva-me contigo à lagoa
P´ra acabar com o meu tormento...

Teresa. C. M 14.02.2014


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Evolução da população em Valbom

Resultados do censo populacional de 2011: número total de habitantes, número de habitantes por sexo e por grupo etário e respetivas percentagens.



Comparação entre os censos de 2001 e de 2011: número total de habitantes, número de habitantes por grupo etário, percentagens dos grupos etários em cada um dos censos; diferença de habitantes em termos quantitativos e percentuais, no total e por grupo etário.





Evolução populacional verificada através dos censos realizados entre 1864 e 2011, traduzida no número total de habitantes e na percentagem de variação verificada entre cada um dos censos.



Fonte: http://concelhodepinhel.jimdo.com/valbom/#

sábado, 18 de janeiro de 2014

Ao calor da lareira

Mesmo só, quando ao pé do fogo da lareira
Ponho-me a recordar o que fui e o que sou,
A minha sombra - a eterna companheira
Que em dias bons e maus sempre me acompanhou,
Fica perto de mim de tal maneira
Que não parece sombra. É alguém que ali ficou.

Somos dois. Cada qual mais triste e mais calado.
Anda lá fora o luar garoando no jardim...
Tenho pena da sombra imóvel a meu lado
Possuída da expressão de um silencio sem fim.
E recordo em voz alta o meu tempo passado
E a sombra chega mais para perto de mim.

Ah! Quem me dera ter um bem que se pareça,
Que lembre vagamente outro que longe vai:
As mãos da minha Mãe sobre a minha cabeça,
O consolo de amigo e a fala do meu Pai.

E antes que a noite passe e a alma se me enterneça,
Abro a janela e espio a lua que se esvai...
Qual! É inútil. Por mais que esta lembrança esqueça,
Uma lágrima cresce em meus olhos e cai...

Deus há de permitir que eu adormeça
Com as mãos de minha Mãe sobre a minha cabeça,
Ouvindo a fala comovida de meu pai.

Olegário Mariano
In Quando Vem Baixando o Crepúsculo



sábado, 11 de janeiro de 2014

Pinturas do século XVI descobertas na igreja matriz de Valbom

Dois painéis de pintura portuguesa a óleo sobre madeira de carvalho, datáveis da segunda metade do seculo XVI, foram encontrados na parte do tardoz do retábulo de talha barroca da igreja matriz de Valbom. A descoberta foi feita por Joana Pereira, da Comissão Diocesana de Arte Sacra, no âmbito de um Projeto de Inventario do Património Religioso, Imóvel e Móvel, existente na Diocese da Guarda, em curso desde 2007. A alta importância da descoberta destas pinturas, que pertenceram a um desmantelado conjunto retabular da antiga igreja, abriu a possibilidade de se levar a efeito a remoção, salvaguarda, conservação e adequada “musealização”, no local, das pinturas de Nossa Senhora da Assunção e de São Pedro. São duas obras de arte sacra, de uma oficina regional desconhecidas tanto na vertente histórico-artística, como na cultural. As pintural que até ao dia 19 de Setembro de 2013, permaneceram enigmaticamente silenciosas no tardoz do retábulo do altar-mor da igreja matriz de Valbom, foram recentemente conservadas pelos técnicos de conservação e restauro do Instituto de Conservação e Restauro e Salvaguarda do Património, sediado em Tortosendo. O processo de conservação que ocorreu entre Setembro e Dezembro de 2013, previu a desinfestação, limpeza, consolidação e proteção das pinturas que atualmente adornam a nave do templo religioso, cumprindo a missão religiosa para as quais foram originalmente realizadas. Nossa Senhora da Assunção (altura de 183,6 x largura 70) surge representada, no registo superior, com o crescente lunar aos pés, ladeada de anjos e com o túmulo representado no registo inferior. São Pedro (altura 144 x largura 54,8) apresenta-se como um homem de compleição robusta, velho, com barbas curtas e calvo. Aparece vestido como apóstolo e nas mãos sustenta dois dos atributos com que vulgarmente é representado: as chaves (dos Céus, que Jesus Cristo lhe terá confiado) e o livro. De acordo com Joana Pereira, “ as pinturas encontradas são muito interessantes e vêm valorizar o património histórico-artístico e religioso quer da paróquia quer do território da Diocese da Guarda onde os exemplares de pintura são pouco numerosos e, no geral de modesto merecimento”. No Arciprestado de Pinhel o inventário realizado passou por 89 edifícios o que se traduziu na inventariação de 831 metais, 699 esculturas, 93 têxteis, 45 objetos incluídos na categoria de espólio documental, 39 pinturas, 26 peças de mobiliários, 3 equipamentos e utensílios e dois objetos devocionais. Paróquia muito antiga Valbom é uma freguesia e paróquia do arciprestado e concelho de Pinhel. Antigamente, Valbom conheceu uma considerável importância. No arrolamento paroquial de 1320, a igreja de Valbom foi taxada em 110 libras e em meados do seculo XVIII os rendimentos da paróquia igualavam os da paróquia de Santa Maria do Castelo de Pinhel. De cariz rural esta terra destaca-se pelo vasto património. É uma das freguesias mais antigas do termo de Pinhel e a sua igreja de traça românica parece remontar ao início da nacionalidade. A sua instituição paroquial data dos seculos XIII / XIV. Atualmente esta paróquia tem como pároco o padre Ricardo Fonseca.

Informação retirada do site:

http://www.diocesedaguarda.pt/component/content/article/55/1002

                        São Pedro


                        Nossa Senhora da Assunção



Igreja Matriz de Valbom

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Dia de Reis

              O dia de Reis é, segundo a tradição cristã, aquele em que Jesus Cristo recebeu a visita dos três Reis Magos. É esta a data de encerramento dos festejos natalícios, sendo hoje desmontados os presépios assim como os adereços natalícios. Era tradição há alguns anos cantarem-se os reis de porta em porta. As pessoas iam de casa em casa e eram convidados pelos donos da casa a entrar e comer alguma coisa.
Por cá, cantava-se com os seguintes versos:

Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas, pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

Ou também

Ano Novo, Ano Novo
Ano novo melhor ano
Viemos cantar as janeiras
Como é lei de cada ano

Se nos as vai dar
Não esteje a demorar
Somos romeiros de longe
Não podemos cá voltar

Oh que casinhas tao altas
Forradas de papelão
Levante-se minha senhora
E venha-nos dar um salpicão

(E se não dessem nada)

Estes barbas de farelo
Não tem nada para nos dar
Só tem um caixote podre
Onde os ratos vão cagar



quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A apanha da azeitona

De vez em quando vou até ai… gosto disso, dessa terra, dessa penedia a quem o tempo deu um ar macio de travesseiro, amansando as arestas, e que no entretanto fez essa terra fértil que tudo cria. A última vez fui à azeitona… e tento deixar-vos o que senti… Pinhel / Valbom 15 de Dezembro de 2012

A apanha da azeitona tem significados diferentes para espíritos diferentes. Para uns representa apenas um trabalho, mais duro que os outros, quer por força dos rigores do tempo, quer pela dureza da tarefa em si. Para outros ainda, reveste-se do misticismo que a associação ao azeite propícia. Afinal a azeitona é apreciada em tantas vertentes que não a valorizar é uma heresia. Em terras de Valbom, para a maioria das pessoas, parece ser apenas um trabalho difícil, mas que precisa ser feito, cumprindo os tempos adequados, pois que só o frio curte a azeitona ate lhe deixar o precioso azeite em termos de ser extraído. De Coimbra partem visitantes de dois tipos, já assíduos e batidos nesse trabalho, outro ainda verde e virgem. Uns levam alguma apreensão porque sabem da dureza que vão enfrentar, outro leva algum receio pelo que lhe foi dito, que depois é acrescido por saber que outras pessoas, para além das do costume, aquelas que já conhece e que a conhecem, estarão no campo. Fica o receio de não ser capaz de cumprir, sabendo contudo que dará o seu melhor, o que fizer será o melhor que consegue. Chegam a Valbom já bem perto das nove, porque foram alguns os entraves logísticos que se colocaram à viagem. O frio que aterrorizou as mentes esqueceu-se de vir e mesmo a chuva, que tão anunciada foi, parece estar para outras paragens. Os trabalhos já tinham sido começados e os visitantes, com a farpela de trabalho vestida apenas tiveram que pegar na ferramenta. Para ele estava um varapau à espera, com o qual iria vergastar as oliveiras pra lhe arrancar as azeitonas. Para elas esperavam as lonas e os baldes (que por estas terras tem outros nomes!). As primeiras servem para forrar o chão e apanhar as azeitonas que os homens com a força de braços derrubam. Os baldes permitem recolher as azeitonas que se escapam ou que o vento já se tinha encarregue de varejar, este sim é um trabalho duro, que verga as costas e desgasta os dedos, por força da fricção com o restolho das ervas ou com as lamas deixadas pela chuva. Para quem assiste pela primeira vez o espetáculo é doloroso. Dói ver as jovens oliveiras a ser vergastadas com força, mesmo sem ser com violência, que é um bater duro mas doce, se a antítese for permitida. Sente-se a gratidão da colheita na forma como se manuseia o varapau. Para quem apanha as lonas não é muito duro, exige alguma velocidade e destreza mas nada de transcendente. Por volta das dez horas come-se o farnel, que a Lucinda arranjou com carinho e desveio, pão e queijo, bola de carne, bolo-rei que o tempo já sido nos lembra e vinho para temperar a lama. E de novo se começa o trabalho, com uma ou outra ameaça de chuva (que umas conversas com S. Pedro vão resolvendo) mas com uma falta de frio que obriga a despir as sucessivas camadas de roupa. Para quem estas lides são novidade é delicioso olhar para as azeitonas e sentir as suas rugas, aperta-las entre os dedos e sentir que por baixo da aparente dureza se esconde uma polpa suave e mole. Até apetece comer, mas memórias de experiencias de infância fazem assomar um sorriso aos olhos e deixar os apetites para depois, com outras, que a água e o sal tenham tornado mais doces. São feitos os mesmos caminhos que em Setembro permitiram recolher as uvas. Esta terra produz em abundancia dois dos mais preciosos líquidos da cultura gastronómica do nosso país, o vinho e o azeite. Não deixa de ser interessante constatar que os locais que os acolhem são os mesmos. Será a terra? Será o clima? Será o casamento de ambos, terra e clima, que permite a proximidade de oliveiras e videiras em perfeita harmonia? É uma terra abençoada esta… por aqui tudo se cria, numa completa antítese às leis de Lavoisier, parece quase um desafio… Embora com dificuldade, conseguiu fazer-se toda a colheita. De regresso a casa falta ainda erguer todo o fruto para eliminar as folhas que foram varejadas junto com as azeitonas. Este processo consiste em fazer passar os frutos por uma máquina que possui uma ventoinha que faz sair as folhas e recolhe os frutos. Este sim é um trabalho duro que obriga a um esforço físico intenso, sobretudo para quem passou o dia a manusear um varapau mais ou menos pesado. No atrelado do trator, essa ferramenta de trabalho preciosa que tanto poupa aos braços dos homens e mulheres e às pernas dos burros, são transportadas as azeitonas, quando se enche a azeitona para os baldes, potes por estas bandas, o chão vai-se tornando mais e mais escorregadio graças às azeitonas esmagadas pelos pés, que vão libertando os seus sucos, deixando uma pelicula de gordura que obriga a um exercício de cuidado continuo para evitar o tombo. Por baixo, junto à máquina, o encher dos sacos obriga os homens a um cuidado e a uma destreza para impedir que se derrame azeitona e assim evitar mais trabalho. Quando as ultimas azeitonas foram vertidas para a máquina o corpo foi autorizado a acusar algum cansaço, faltava apenas arrumar o folhedo e depois rumar ao banho e à janta que a hora era chegada. Para esse jantar estava prevista uma feijoada de cogumelos, que embora tardia acabou por sair. O serão, esse foi como sempre em casa do Pedro, longo, muito longo, com a conversa que se faz à volta de um (ou vários!) copo e um queijo. O domingo chegou rápido e com bastante chuva, mesmo assim permitiu uma saída rápida até à horta para colher umas nabiças, uns grelos e umas couves que mais tarde, e mais para sul, ajudam a mitigar alguma nostalgia que deixam a terra e as gentes de Valbom.


Autoria: Anabela Bragança