segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O Natal nas Beiras

Dizer beirão é exaltar a voz da independência que Viriato fez ecoar pelas quebradas da serra e pelos vales que a circundam; é dizer franqueza, bondade e hospitalidade!

Que admira, pois, que neste coração da Pátria, como lhe chamou o tribuno, mais do que pela tradição pagã da supremacia da luz sobre as trevas, do Sol sobre a noite, seja celebrado o dia 25 de dezembro em razão do nascimento de Cristo, a verdadeira luz do Mundo, da presença de Deus entre os homens, da comunhão de ricos e pobres, Reis e pastores, num sonho de ideal divino e humano, com a presença dos auxiliares indispensáveis do homem, os animais? O Natal é para os Beirões expressão de bondade, redenção e amor, como outra não há igual entre os seres vivos da Criação.

O Madeiro ou Cepo


Sucessor do fogo simbólico do rito pagão, são incontáveis os adros das igrejas e capelas onde, durante o ciclo de Natal, ardem velhos troncos de árvore, reunidos por obrigação pelas mordomias de Santos, ou cortados e acarretados por gente moça, que sobre si toma de boa vontade aquele encargo.
Se há proprietário que os ofereça, os madeiros ou cepos são cortados e transportados à luz do dia, aos olhos do mundo.
Se falta a alma boa, devota ou compreensiva que associe, os mordomos ou os moços deitam seus olhares pelos campos, e, alta noite, com carros de bois, estes por vezes também atrelados sem conhecimento dos seus donos, e munidos das necessárias ferramentas, cortam e transportam os troncos necessários de árvores, mutiladas e decrepitadas.
E para que ninguém possa constituir-se parte acusadora, ou testemunhar o facto, cobrem os carros e o gado com panos, e os homens embuçam-se e munem-se de pedras para, se algo curioso procurar tirar o delito a claro, ser apedrejado e obrigado a desistir do seu intento.
O vinho anda à discrição em cântaros de folha, para quem o quiser beber. Considerado tão cristão como a cruz (o madeiro é vida, a cruz é morte), enquanto dura ou de todo se não extingue andam os homens, novos e velhos, em todas as noites dos dias solenes do ciclo do Natal, em romaria até altas horas pelas ruas das povoações a cantarem quadras do vasto cancioneiro Natalino. E, reunidos à sua volta, não cessam de malhar sobre ele com paus e mocas e gritarem: - Ó madeiro! – Ó madeiro, qu’inda s’tás inteiro! – Viva o cepo! – Arda o toro! – Viva o moro! Viva o Menino Jesus!
Ao madeiro são atribuídos puderes sobrenaturais, tais como o de os restos que não arderam preservarem os raios em dias de trovoada e acalmarem as iras divinas! Através de uma formosa lenda de Monsanto (a aldeia mais portuguesa), o povo afirma que a cidadela, no ano em que o governador, desrespeitando o velho costume do Menino Jesus, o mandou queimar na sua própria cozinha, foi pelos ares, só se salvando a cozinheira, que sempre se opôs ao desacato.
Nas casas particulares, também o lume da lareira é reforçado e contínua aceso pela noite de Natal adiante, para, se o Menino Jesus vier, se puder aquecer.




A consoada


Ceia grande, nuns lugares antes, noutros depois da Missa do Galo, na consoada se materializa a verdadeira festa da família!
Vêm todos: os de perto e os de longe. Correm lágrimas de alegria pela presença dos que vão chegando, mas maiores e mais abundantes as de saudade pela ausência dos que não puderam ajuntar-se!
Grande há-se ser a desavença que se não vergue nesta noite santa ante as palhinhas deste tão belo exemplo de humildade, vindo para redimir os homens e condenar egoísmos e vaidades!
A dona de casa, avó ou mãe estremecida, sinceramente devotada à sua função, antecipou de dois dias a preparação dos acepipes. Os armários e os escaparates estão atascados de doces de todas as espécies, e no momento próprio entrará na cozinha o bacalhau com seus acompanhamentos de grelos e ovos, ou o peru, ou o leitão em casas mais opulentas. Conforme as regiões, há filhós estendidas, fatias-douradas, coscorões, beilhós, pães leves (pães-de-ló), merendas e bicas, etc.
O arroz doce vai ser cozido e espalhado por almofias e travessas, e à superfície serão lavradas com canela as iniciais dos nomes de cada um dos familiares.
Há de tudo e com fartura, do melhor que os banquetes beirões sabem reunir. Não se descreve a alegria, sempre e sobretudo baseada nos laços afectivos, que preside e caracteriza o Natal de Jesus e o tornam a festa por excelência do amor puro!
E não é esquecido o Menino, porque a mesa ficará posta para que, se vier, encontre que comer. 



A missa do Galo


Límpida ou tempestuosa, de sete-estrelas a brilhar ou de chuva e de neve, o Inverno parece ter reservado para a Noite de Natal nas Beiras, como nas demais terras de Portugal, excepcional rigor. Regista-se assim o povo:
Oh meu Menino Jesus
Oh meu Menino tão belo,
Logo vieste a nascer
Na noite do caramelo.                                                                                      
Por isso, os moradores dos pequenos lugares disseminados pelos campos não esperam pelo pôr-do-Sol para se conduzirem às sedes das freguesias a fim de ouvirem a missa da meia-noite, adorarem o Menino em seu presépio e o beijarem em seu corpinho nu.
Espalhados pelas casas de parentes e amigos, que também cedo regressam a seus lares, conversam todos em volta do lume que arde nas lareiras até poder cumprir o preceito da Missa, que é a maior de todos os dias Santos.
Os sinos, que pela Ressurreição tocam aleluias triunfantes e nos dias de casamento ou baptizado repicam festivamente, têm no badalar desta noite vibrações especiais que impressionam e enternecem mais os corações!
Os seus ecos, protegidos pela solidão e pelo negrume que envolve a face da terra, estendem-se por maiores distancias.
Não tardam a tocar a terceira e última à Missa. A igreja regurgita de fiéis!
À meia-noite, as cortinas do presépio afastam-se, deixando à vista o Menino com todo o ingénuo acompanhamento das tradicionais figurinhas de barro.
O pároco sobe ao altar para celebrar a missa.
Na altura do Evangelho, diz o significado grande da Natividade e, no final, enquanto o povo entoa em uníssono os cantares do Natal, dá o Menino Jesus a beijar.



Autos, entremeses e villancicos


Criados em data recuada pela Igreja para melhor compreensão das suas doutrinas, os autos tiveram larga divulgação nas Beiras, como ainda pode avaliar-se pelo que andam na tradição do povo.
Gil Vicente encontrou neles um valioso elemento de inspiração, se não é que alguns constituíram mesmo esquemas-tipo, como no Auto Pastoril Castelhano e que se representava no concelho de Oleiros.
No guarda-vento da entrada principal da igreja, cinco, sete ou mais pastores (seu número era variável) aguardavam o momento de exibirem seu estro em louvor do Deus-Menino e entregarem as suas ofertas: cabritos, cordeiros, chouriços, castanhas, etc.
Senhores do seu papel uns, um tanto comprometidos outros (sobretudo os que faziam a sua iniciação), todos encostados a seus cajados, com a sua montada às costas, seus safrões apertados à cinta e às pernas, seus sarrões pendentes do ombro e seus pífaros (às vezes feitos por eles próprios, de pau de sabugueiro) na mão, ou no bolso da jaqueta, relembravam as quadras que haviam estudado ou procuravam fixar rimas para as que deviam improvisar.
Acabada a Missa, antes que o prior começasse a dar o Menino a beijar, abria-se a porta do guarda-vento.
Um dos pastores entrava na igreja com a sua oferta, um borrego, por exemplo, e começava com esta ou outra quadra:
Oh meu Menino Jesus,
Oh meu Menino adorado,
Aqui tendes a visita
Dos pobres pastores de gado.
Sobre a porta do guarda-vento, pendente de uma corda que ia do coro da igreja ao presépio, estava uma lanterna de azeite. Representava a estrela que guiou os pastores a Belém. Acesa no ato da representação e puxada por um cordel, andava do presépio para o guarda-vento e do guarda-vento para o presépio, sempre à frente dos pastores.
Dita a primeira quadra, o pastor seguia coxia a cima, guiado pela lanterna e dizia:
Oh estrela luminosa,
Meus passos alumia,
Que eu venho visitar
O filho da Virgem Maria.
Avançava um pouco e recitava nova quadra:
Oh meu Menino Jesus,
Estou muito admirado
De vos ver, com tanto frio,
Nessas palhinhas deitado.
Próximo do presépio, ou junto da grade que separava a capela-mor do corpo da igreja onde o pároco e o sacristão o esperavam, dizia o pastor:
A oferta que vos trago
É simples e de pouco valor,
É apenas um cordeiro
Dos que guarda o pastor.
A lanterna tomava o caminho do guarda-vento, sempre à frente do pastor. Entretanto, ele continuava:
Adeus, Menino Jesus,
As costas vos vou virar,
Adeus até pró ano,
Se eu cá puder voltar!
Entravam sucessivamente o segundo, o terceiro e os demais pastores com as suas improvisações no estilo do primeiro, sendo dignas de registo quadras como estas:
Ó meu Menino Jesus,
Esta gente está-se a rir,
Agora é que eu vejo
Que não devia cá vir.
Ou:
Eu já não vejo a porta
Por onde sair!

Ó Meu Menino Jesus,
Trago-vos vinho moscatel,
Bem sei que não é pra vós
Mas pró senhor padre Manel.

De entremeses, há reminiscências em Manteigas e Sabugal. Que saibamos, os autos pastoris perduraram por muitos anos na Figueira da Foz, desviados por vezes, no dizer de Cardoso Marta, dos Evangelhos, “porque o povo criou para seu uso testemunhos diversos dos que os concílios declaram canónicos”.
De vilancicos, nada resta nas Beiras, embora se contassem por milhares os que havia no País.


As janeiras e os reis nas beiras


Crê-se que de origem ou reminiscência pagã, imitação das Saturnais romanas, a tradição das Janeiras vem de longe e continua em muitas localidades.
Grupos de rapazes e raparigas, algumas vezes acompanhados de instrumentos musicais, andam ao começo da noite e durante toda a quadra Natalina, pelos balcões e pelas portas a cantar e a pedir:
Boas noites, boas noites
Boas noites de alegria
Que lhas manda o Rei da Glória
Filho da Virgem Maria.
Improvisam quadras de louvor a cada um dos da família da casa e em seguida:
Levante-se lá Senhora
Do seu banco de cortiça
Venha-nos dar a Janeira
De morcela ou chouriça.
Se o pedido não é atendido, vem logo o remoque:
Esta casa não é alta,
Tem apenas um andar,
Estes barbas de farelo
Não têm nada p’ra nos dar!

As esmolas recebidas, são, numas povoações, destinadas à ceia ou festa do grupo, noutras, a mandar dizer missas pelas almas do Purgatório, e ainda noutras, estão imbuídas das duas intenções!
Esmola se a dais
Não julgues que a comemos,
É p’ra benditas almas
Que todos nós as lá temos.

Registo especial mereciam as Janeiras de Tinalhas, conhecidas pelo “Ó Ah! Que se chá…”, e que, pelo seu cunho próprio, atraem à povoação centenas de curiosos.
Nos concelhos de Oleiros, Proença-a-Nova e Sertã cantam-se os Reis com a mesma intenção das Janeiras e a seguir os Raminhos:
Um raminho, dois raminhos,
Cada qual com seu confeito,
Viva o dono desta Casa
Esta vai a seu respeito.

São Miguel pediu por nós
Ao Senhor dos Altos Céus,
Dai esmola se puderdes,
Seja pelo amor de Deus.

Há as Janeiras e os Reis, que são distintas. Aquelas são, por assim dizer, um canto a desejar boas-festas ou bom ano:

Nós vimos aqui cantá-las
Por ser anos melhorados,
Melhorados nas fazendas,
Descontados nos pecados.

Na festa dos Reis, também se canta, mas então:

Não vos damos as Janeiras
Porque são dos lavradores,
Vimos cantar-vos os Reis,
Que são dos nobres Senhores.

Certo é que a distinção entre Reis e Janeiras é um tanto ou quanto ingrata, havendo terras onde se confundem e onde as janeiras são cantadas do Natal até aos Reis.
Estes cantos populares começam sempre por uma saudação de entrada, à qual se seguem loas às pessoas da casa onde se está a cantar:

Viva a dona desta casa,
Viva os anos que deseja,
Depois deles acabados,
No Reino dos Céus esteja.

Também viva, para que viva,
Viva a folha do codeço,
Vivam todos em geral
Que por nome não conheço.

Vem, depois, o peditório propriamente dito:

Senhora, que estais lá dentro,
Rezando nas contas brancas,
Mandai-nos dar a esmola
Em louvor das almas Santas.

Senhores, que estais deitados
Nesse leito de pau fino,
Mandai já dar a esmola,
Em louvor do Deus-Menino.

Uma vez recebida a Janeira, os cantadores deitam o agradecimento e a despedida:
Aqui mora alguma Santa,
Pois nos deu as Janeirinhas;
Tantos anos ela conte
Como a casa de pedrinhas.

Deitemos-lhe a despedida
Por cima do laranjal:
Viva a dona desta casa,
Vivam todos em geral!

Despedida, despedida,
Despedida bela-luz:
Os senhores desta casa
Amanheçam com Jesus.

E, com isto, lá se vai o grupo cantar a outra porta, entoar mais loas, colher mais Janeiras ou então, quando nada lhes é dado, gritar:
As Janeiras que aqui cantamos,
Tornemo-las a descantar
Que estes barbas de farelo
Não tem nada que nos dar.

Esta casa cheira a unto,
Aqui mora algum defunto!

E outras coisas deste género.
As músicas e letras das Janeiras variam de província para província e de terra para terra. Mas elas constituem um manancial riquíssimo do nosso folclore, cheio de pitoresco e de curiosidade. Na obra, encetada do reaportuguesamento do Natal, deviam ter-se em conta os cantos das Janeiras e dos Reis. Eles constituem um aspecto tipicamente português das nossas festas e seria a todos os títulos meritório, e belo, fazer reavivar essa tradição, que se vai perdendo ou adulterando. 


Roupa velha

Roupa velha

O Natal tem sempre o bacalhau cozido com couves. E no dia seguinte é tradição fazer a roupa velha, com as sobras do jantar de consoada, sendo o jantar de consoada já feito a pensar na deliciosa Roupa Velha. Quer se goste ou não, a Roupa Velha é já um símbolo da nossa cultura que já vem desde muito antes do tempo dos nossos avós.

Ingredientes:
Azeite (4 colheres de sopa por cada dose - prato)
1 dente de alho picado por cada dose
Sobras de bacalhau, couves, ovos, batatas da consoada

Começar por partir aos bocadinhos as batatas, as couves, os ovos e lascar o bacalhau retirando também as peles e as espinhas e reservar. Aquecer o azeite e os alhos num tacho antiaderente, quando começar a alourar o alho juntar as sobras e envolver e deixar cozinhar cerca de 10 minutos em lume brando mexendo para que fique bem misturado e se necessário juntar mais azeite para que não fique seco.
Quando não há ovos cozidos acrescentar 1 ou 2 ovos previamente batidos envolvendo e mexendo sempre como se fosse o bacalhau à Brás.

Bom apetite!



As Boas Vindas

Inalo um aroma que se espalha por todas as aldeias.
Não há perfume enclausurado em frasco enfeitado,
que ultrapasse o cheiro acolhedor e quente que vem das lareiras.

Inspiro o calor da tertúlia incessante das famílias reunidas,
A azáfama ansiosa da chegada e estadia, há muito queridas.

Entre fritos e fritas, filhoses, sonhos, bacalhau e perus,
Apressa-se a ceia de Natal e colocam-se os sapatinhos na chaminé.
A meia noite esta a chegar, e traz com ela o menino jesus,
Figura primordial do Natal, filho de Maria e José.

E com tanto gelo la fora, quem aquece o recém-nascido?
As gentes solidarias das aldeias logo resolvem este problema.
Do frio não se queixará, pois um madeiro se arranjará.

Com o toque a rebate, os homens reúnem-se no largo da igreja.
Lenha não faltará, nem que cada um dê só um toro!
E com boa vontade de todos, há tanto cepo, que ate sobeja.

Após o galo anunciar na missa a chegada do bendito fruto do ventre,
No largo da igreja lançam-se as primeiras achas para a fogueira.
O grande Madeiro manterá o menino quente,
Para a boa nova chegar à terra inteira.

Catarina Castro Oliveira



Noite de Magia

Passeio na rua da aldeia fria
Deserta que no cair da noite fica,
Recolhem-se gentes cansadas da lida
Aquecem a casa acendem fogueiras,

Gelando e tremendo sem arredar pé
Fico quieta esperando que alguém,
Repare no mesmo que já notei…
Enfrente o frio e o sinta também!

Aquilo que eu sinto, tanta alegria
No qual me parece sendo magia,
Cobria a rua com o seu véu…

Menina de gorro, jovem de trança
É alegria de gente criança,
Flocos de neve vindos do céu!


Carla Bordalo


Ano Novo

«Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...
Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes, e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!!!»
Feliz 2017 !!! Feliz Ano Novo !!


Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.


Fernando Pessoa


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

As vindimas

Acabaram as vindimas
E muitas uvas se colheram
Com ajuda dos primos e das primas
As grandes adegas se encheram.

Todos comiam a merenda
Sentados nas pedras ao relento,
Cada qual estendia a sua tenda
Lá no campo ao sabor do tempo.

E todos em grupo sentados
Comiam da mesma refeição,
Mesmo os que não estavam habituados
Gostavam de comer a merenda no chão

Comia-se o arroz e a feijoada
O queijo, presunto e pão
Vinha o bolo e a marmelada
E na volta andava o garrafão.

Maria Raposo


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Casas Abandonadas

Casas que já foram habitadas
E que hoje ao abandono estão
Aguardam serem recuperadas
Mas não há quem lhes deite a mão
Avós, pais e filhos nelas habitaram
Isso dá uma terceira geração
Por eles foram abandonadas
Mas não se sabe a razão
Podiam ir muito mais além
E terem a mesma notoriedade
Mas para isso tinha de surgir alguém
Que goste delas de verdade
Ao vê-las nesta situação
Fico muitas vezes a pensar
Será que surgirá um bom coração
Que as queira recuperar
Manuel Pires


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Acarrejar

Debaixo de um sol abrasador
Mas sem com ele se importar
Acarreja o pão o lavrador
Para na eira o ir malhar
Por caminhos mal-arranjados
Subindo e descendo ladeiras
Andam carros carregados
Fazendo enormes chiadeiras
Assim era transportado
Para mornais se fazer
Para depois ser malhado
De manhã até ao anoitecer
Ainda me lembro das sernelhas
Das poupas e cigarras a cantar
E dos pastores e das ovelhas
Nos restolhos a pastar
Ó como é tão bom lembrar
Este tempo de acarrejar
E das arganas a picar
Causando-nos um mau estar

Manuel Pires


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Dia Mundial da Neve

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Artesanato

A manifestação artesanal de Valbom é muito diversificada e extremamente importante. Dando continuidade aos costumes, o artesanato projeta esta freguesia num conjunto de tradições que nos permitem ter um conhecimento mais vasto desta região.

Mantas de Trapos
Estas mantas eram tecidas num tear artesanal, utilizando trapos e fios de algodão, eram depois utilizadas como cobertores. 












Cultivo de Linho
Depois de espadelado e fiado, o linho era utilizado para fazer lençóis e toalhas, entre outras peças, que faziam parte do enxoval de qualquer noiva.










Ceiras
Estas eram confecionadas com fio Cairo e tinham utilidade nos lagares de azeite, onde eram utilizadas para espremer a massa da azeitona. 












Brinquedos
Os brinquedos tradicionais, de que há registo, são aqueles que permitem a continuação dos jogos, enraizados à muito nesta bela freguesia. Eis alguns brinquedos tradicionais:
Pião - Feito de madeira, com um espigão de ferro num dos extremos.














Arco - Este brinquedo consiste numa roda e num gancho de ferro.









Boneca de Trapos - Bonecas feitas com restos de roupa e lãs.















Bolas de Trapos - Estas bolas são meias enchidas com trapos, podendo ser de vários tamanhos e cores.