A primavera sonhou que era verão
Os pássaros acordam a madrugada
Anunciando um dia quente de emoção
Promessa de amor doce alcançada
Sopra morna a leve aragem verde
Trás um intenso cheiro das giestas
Todo o monte é um jardim em tela
Branco amarelo rosa são aguarela
Na aldeia silenciosa
Ladram os cães miam os gatos
Brincando ou buscando alimento
Armam nas ruas seus desacatos
Para não ficarem sem sustento
Na aldeia silenciosa
Povoada por asas de magia
No meio das casas em nostalgia
Chilreia a mais diversa passarada
Desenhando horizontes animada
Esperto o cuco chama o sol
Empoleirado no galho o rouxinol
Melros andorinhas e cotovias
Desafiam despicadas melodias
Na aldeia silenciosa
Toca o sino no campanário
Corre a água na fonte sem idade
Num silencio do seu rosário
Há um murmúrio de saudade…
Desses tempos que já lá vão
De festas convívios e animação
De longínquos dias de verão
E noites guardadas no coração
Nas ruas passava o gado a balir
Cruzavam-se e saudavam-se as gentes
Do trabalho ou da fonte num ir e vir
Almas cansadas de rostos contentes
Pairava o cheiro do forno a broa
No galinheiro sempre havia ovos
Vidas que passaram de gente boa
Que ignoram agora os mais novos…
Da aldeia ruidosa jaz agora este silencio…
Tiló Henriques
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