Actualmente já é muito
raro acontecer por cá mas a matança do porco era uma tradição popular que era repetida
ano após ano quer em Valbom quer nas mais diversas aldeias portuguesas.
Durante o ano toda a malta da casa
ajudava na alimentação do porco. Pela altura do Natal ou Ano novo era tempo da
matança. Informava-se a família e preparava-se o material necessário para o
momento da matança, lavava-se a salgadeira, tratava-se das varas para o
fumeiro, alguidares para recolher o sangue e para temperar e guardar a carne
para os enchidos e adquiriam-se os bens alimentares e temperos necessários
(vinho branco, cominhos, pimental, sal, tripas, etc.). Na véspera era cozido o
pão e faziam-se os fritos para o dia da matança que era um dia de festa pois
além do convívio do momento, estava ali assegurada parte da alimentação da
família para o ano seguinte.
Bem pela manha do dia da matança as
pessoas iam chegando e começavam por comer algo, mais vulgarmente designado por
“matar o bicho” para depois se iniciar a actividade. Acendia-se uma fogueira para
aquecer as pessoas e os homens iam à pocilga buscar o animal que no dia
anterior não tinha tido direito a qualquer alimentação. Mesmo assim, havia
sempre alguma resistência da parte do animal a deixar-se apanhar provocando
momentos de animação quer a quem o tentava apanhar quer a quem via a situação
ao longe. Com mais ou menos esforço o animal acabava por ir parar à banca
estando amarrado à mesa e com os homens a segura-lo em todos os pontos onde era
possível. Estando o animal preso e mais que seguro não lhe restava mais nada
que grunhir ao sentir que não estava no seu ambiente normal. E era chegado o
momento de alguém espetar a faca no animal o que provocava enorme sofrimento no
animal e originava fortes grunhidos. Após este momento seguia-se a recolha do
sangue para um alguidar de barro no qual havia pedaços de pão e gotas de
vinagre para que o sangue não coalhasse.
Enquanto os homens se mantinham em
volta do porco, as mulheres traziam água da fonte para as lavagens. Seguidamente
tinha início o chamusco dos pelos do porco com palha a arder. Depois era lavado
e raspado sendo posteriormente pendurado para ser aberto. Ao abrir retiravam-se
as vísceras e os órgãos para um tabuleiro. Depois eram retiradas as tripas e os
intestinos. Pendurava-se o porco no chambaril onde se faziam os toucinhos. O
pendurar do porco significava o fim do primeiro dia de matança para os homens.
As mulheres continuavam os seus afazeres. Um grupo ia à ribeira lavar as
tripas, enquanto outras iam preparando o almoço. Após almoçar os homens
continuavam à mesa jogando às cartas, conversando e bebendo uns copos. As
mulheres, terminado o almoço, lavavam a loiça e iniciavam a preparação das
morcelas. Preparavam-se os atilhos e as enchedeiras e após verificar o tempero
começavam-se a encher as tripas atando-as e colocando-as a cozer em lume brando
para não rebentarem. Após cozerem, eram colocadas em varas para corarem.
Chegada a hora do jantar, as
mulheres mantinham-se à lareira e os homens a jogar as cartas enquanto a dona
de casa o preparava para todos. No dia seguinte era feita a desmancha do porco."... quantas saudades dos jantares de familía! Do tempo da matança! Os rojões quentes que chiam no prato! Os sarrabulhos cheirosos!" (Eça de Queirós)
Tradicional matança do porco nos anos 60 na nossa aldeia
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