segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Matança do porco

           Actualmente já é muito raro acontecer por cá mas a matança do porco era uma tradição popular que era repetida ano após ano quer em Valbom quer nas mais diversas aldeias portuguesas.  
            Durante o ano toda a malta da casa ajudava na alimentação do porco. Pela altura do Natal ou Ano novo era tempo da matança. Informava-se a família e preparava-se o material necessário para o momento da matança, lavava-se a salgadeira, tratava-se das varas para o fumeiro, alguidares para recolher o sangue e para temperar e guardar a carne para os enchidos e adquiriam-se os bens alimentares e temperos necessários (vinho branco, cominhos, pimental, sal, tripas, etc.). Na véspera era cozido o pão e faziam-se os fritos para o dia da matança que era um dia de festa pois além do convívio do momento, estava ali assegurada parte da alimentação da família para o ano seguinte.
            Bem pela manha do dia da matança as pessoas iam chegando e começavam por comer algo, mais vulgarmente designado por “matar o bicho” para depois se iniciar a actividade. Acendia-se uma fogueira para aquecer as pessoas e os homens iam à pocilga buscar o animal que no dia anterior não tinha tido direito a qualquer alimentação. Mesmo assim, havia sempre alguma resistência da parte do animal a deixar-se apanhar provocando momentos de animação quer a quem o tentava apanhar quer a quem via a situação ao longe. Com mais ou menos esforço o animal acabava por ir parar à banca estando amarrado à mesa e com os homens a segura-lo em todos os pontos onde era possível. Estando o animal preso e mais que seguro não lhe restava mais nada que grunhir ao sentir que não estava no seu ambiente normal. E era chegado o momento de alguém espetar a faca no animal o que provocava enorme sofrimento no animal e originava fortes grunhidos. Após este momento seguia-se a recolha do sangue para um alguidar de barro no qual havia pedaços de pão e gotas de vinagre para que o sangue não coalhasse.
            Enquanto os homens se mantinham em volta do porco, as mulheres traziam água da fonte para as lavagens. Seguidamente tinha início o chamusco dos pelos do porco com palha a arder. Depois era lavado e raspado sendo posteriormente pendurado para ser aberto. Ao abrir retiravam-se as vísceras e os órgãos para um tabuleiro. Depois eram retiradas as tripas e os intestinos. Pendurava-se o porco no chambaril onde se faziam os toucinhos. O pendurar do porco significava o fim do primeiro dia de matança para os homens. As mulheres continuavam os seus afazeres. Um grupo ia à ribeira lavar as tripas, enquanto outras iam preparando o almoço. Após almoçar os homens continuavam à mesa jogando às cartas, conversando e bebendo uns copos. As mulheres, terminado o almoço, lavavam a loiça e iniciavam a preparação das morcelas. Preparavam-se os atilhos e as enchedeiras e após verificar o tempero começavam-se a encher as tripas atando-as e colocando-as a cozer em lume brando para não rebentarem. Após cozerem, eram colocadas em varas para corarem.
            Chegada a hora do jantar, as mulheres mantinham-se à lareira e os homens a jogar as cartas enquanto a dona de casa o preparava para todos. No dia seguinte era feita a desmancha do porco.



"... quantas saudades dos jantares de familía! Do tempo da matança! Os rojões quentes que chiam no prato! Os sarrabulhos cheirosos!" (Eça de Queirós)
Tradicional matança do porco nos anos 60 na nossa aldeia

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Poema do idoso

Se meu andar é hesitante
e minhas mãos trémulas, ampare-me.
Se minha audição não é boa, e tenho de me
esforçar para ouvir o que você
está dizendo, procure entender-me.
Se minha visão é imperfeita
e o meu entendimento escasso,
ajude-me com paciência.
Se minha mão treme e derrubo comida
na mesa ou no chão, por favor,
não se irrite, tentei fazer o que pude.
Se você me encontrar na rua,
não faça de conta que não me viu.
Pare para conversar comigo. Sinto-me só.
Se você, na sua sensibilidade,
me ver triste e só,
simplesmente partilhe comigo um sorriso e seja solidário.
Se lhe contei pela terceira vez a mesma história num
só dia, não me repreenda, simplesmente ouça-me.
Se me comporto como criança, cerque-me de carinho.
Se estou doente e sendo um peso, não me abandone.
Se estou com medo da morte e tento negá-la,
por favor, ajude-me na preparação para o adeus.
                      (Autor Desconhecido)