sábado, 25 de julho de 2020

Abandonada

A velha casa, onde eu morei outrora
E que há muito está desabitada,
Silenciosa envolveu-me, ao ver-me agora,
Num triste olhar de amante abandonada.

Com que amargor no íntimo lhe chora
Uma alma sensitiva e ignorada,
Que não tem voz para se queixar, embora
Se veja só, de todos olvidada!

Casa deserta e fria, que envelheces
Ao desamparo, sem uma afeição,
Bem sinto que me vês, que me conheces

E relembras os dias que lá vão...
Eu esqueci-te, amiga, e tu pareces
Toda magoada dessa ingratidão.

Roberto de Mesquita